Até hoje, a famosa pintura do "leopardo de Chauvet" tem sido interpretada como sendo uma representação do leopardo-das-cavernas (Panthera pardus spelaea Bachler, 1936), uma subespécie do leopardo-comum que
habitou a Europa durante o último período glacial (glaciação Würm).
Por causa disso, é genericamente aceite que o
leopardo-das-cavernas teria uma distintiva coloração branca no peito e no baixo-ventre, distinguindo-se assim de todas as outras subespécies de leopardo (que
tem muitas manchas negras nestas zonas).
Mas será que isto é mesmo assim? Será que não temos andado, até agora, a
interpretar as coisas de forma errada? A olhar para o “quadro geral” com o
pensamento condicionado por um conhecimento limitado até então? 🤔
E se o animal representado em Chauvet não for, de todo, um
leopardo-das-cavernas? E se for um LEOPARDO-DAS-NEVES-PORTUGUÊS (Panthera uncia lusitana nov.), já pensaram nisso? Afinal de contas, agora já sabemos que esta espécie também ocorreu na Europa durante o mesmo período! E pasmem, uma das
características mais distintivas desta espécie é precisamente o seu
peito e ventre maioritariamente branco! Características bem evidentes na pintura da caverna! 😲
Resolvemos fazer um exercício comparando a pintura do "leopardo de Chauvet" com
duas fotografias de leopardo-das-neves (Panthera uncia Schreber, 1775). Como podem ver, a grossura da cauda, o
tamanho da cabeça e o tamanho das rosetas do animal pintado na caverna difere
substancialmente do leopardo-das-neves atual.
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| Fig. 2 |
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| Fig. 3 |
Assim, o que
é que isto significa? Que a pintura de Chauvet sempre representa um
leopardo-das-cavernas? Que a hipótese leopardo-das-neves-português fica
definitivamente posta de parte? Não necessariamente…
As
pinturas das cavernas refletem, sobretudo, as características mais distintivas
dos animais que procuram representar, algo que é especialmente verdade no caso
de grandes predadores, animais que eram muito menos abundantes e que por norma
eram observados a distâncias prudentes, distâncias em que ficava difícil observar pequenos pormenores corporais. Assim, é perfeitamente possível que falte precisão à pintura do "leopardo de Chauvet" no que concerne a características que, a grande distância, seriam
menos evidentes, como o tamanho e a forma das rosetas, o tamanho da cabeça e a grossura
da cauda (o pintor até pode ter representado um animal do qual ouviu falar mas nunca viu). Em contrapartida, mesmo a grande distância, seria difícil não reparar
no ventre e peito branco tão característico da maioria dos felinos desta espécie, assim
como nos traços gerais de qualquer espécie de leopardo (forma geral da cabeça, presença de pintas no corpo, cauda comprida,
pernas curtas).
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| Fig. 6 - Vista lateral de um leopardo-das-neves. |
Isto significa então que estamos mesmo perante um leopardo-das-neves-português?
Não, até porque não sabemos se o leopardo-das-neves-português tinha o peito e o baixo-ventre efetivamente branco (embora possamos especular que sim, afinal de contas, trata-se da mesma
espécie que ainda hoje sobrevive nas cadeias montanhosas da Ásia).

Fig. 7 - O peito e o ventre de um leopardo-das-neves.
Da mesma forma, também não podemos descartar a hipótese leopardo-das-cavernas, porque embora não existam outras subespécies de leopardo com o peito e o ventre branco (maioritariamente), a verdade é que nada nos garante que a subespécie europeia não tivesse mesmo essas características (e para além disso, as restantes características da pintura da caverna estão de acordo com aquilo que ainda hoje em dia é possível observar nesta espécie).
Por conseguinte, na nossa opinião, as duas espécies são "igualmente prováveis", especialmente se tivermos em conta as descobertas científicas mais recentes:
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| Fig. 9 - Clique aqui para ser redirecionado para o artigo. |
E vocês, o que é que acham? O "leopardo de Chauvet" é mesmo um
leopardo-das-cavernas ou também concordam que há uma boa probabilidade de ser um
leopardo-das-neves-português? Digam coisas! 🙂
Pela CIÊNCIA NATURA,
Lemuel Silva (Biólogo, Comunicador de Ciência e Conservacionista)